Ou, o apito
cor-de-rosa*
Ademir Ângelo Castellari – Palmeirense e sociólogo
Há alguns dias vi no Blog do PVC uma matéria sobre os
pontos reclamados por cada time e uma classificação se
cada ponto fosse devolvido ao reclamante. Segundo os
NÚMEROS o campeonato continuaria como estava, com a
mesma classificação, com a diferença no número de pontos
de cada time.
Pois bem, números são números, são frios. O que se faz
com eles (e como se estuda esses números) é o importante,
é o que faz diferença.
Há a famosa metáfora do frango e o PIB: existem duas
pessoas e dois frangos. Uma delas come os dois, o outro
morre de fome, mas na MÉDIA, cada um comeu um. Os
números dizem isso.
Durante o segundo reinado, sob o mando de Dom Pedro II,
o Brasil tinha 60% de sua população composta por negros
livres, 30% de brancos e 15% de negros escravos. Ou seja,
havia mais escravos livres que brancos livres. Durante
esse período 15% dos professores brasileiros eram negros.
Os irmãos Rebouças (um médico e outro engenheiro) eram
consultores do Imperador. Do fim do Império até 1940
esses professores negros desapareceram. O que isso quer
dizer? Depende. São apenas números. A análise que se
fará desses números é o que importa e o que responderá
os porquês.
Voltando ao futebol, e aos números, vale dois
comentários sobre a matéria do PVC.
O primeiro é que uma rápida olhada nos mostra que NO
MÌNIMO o campeonato estaria mais equilibrado, com a
diferença do líder para os outros sendo menor.
O segundo comentário é que o momento dos erros importa
bastante, pois se um time está para alcançar outro e é
prejudicado dá uma sobrevida para aquele que está a sua
frente. Além do mais estar a frente é uma vantagem
enorme (desculpa a redundância, mas é isso mesmo), pois
'caçar' o outro é muito mais difícil que administrar a
vantagem.
Me lembro do campeonato do Edílson. Aquele como esse
tinha muita reclamação sobre arbitragens. A imprensa
fazia seu papel e dizia que 'erros acontecem', se dando
conta – só depois – de que havia mais que erros. Havia
manipulação de resultados.
O que tudo isso tem a ver com a Itália ou com que eu
estou clamando de 'italianização' de nosso futebol? Tudo.
É que lá como aqui a imprensa diz – e sempre disse – que
'erros' acontecem. É que lá – aqui ainda não - há um 'enorme
equilíbrio': ou dá Milan ou dá Juve (nada mais
equilibrado que isso). Claro que acontecem algumas
exceções (um título do Nápoli, um da Inter, a cada
intervalo de seis ou sete dos outros dois). É que lá o
equilíbrio vem daquilo que a imprensa convencionou a
chamar de 'time que tem estrutura'. Aqui isso está
aparecendo agora. O que seria essa estrutura é o que não
sabemos. O que sabemos é que por lá, depois de vários
anos de 'choradeira de perdedores' e de 'erros' que
acontecem, havia algo muito maior que 'estrutura e
choradeira'. Havia um 'esquemão' de compra de resultados,
por parte dos vencedores, daqueles que quase nunca
choravam, daqueles que tinham 'estrutura'. Fiquemos
atentos por aqui. Depois não vale dizer que todos fomos
enganados!
* Escrito em um momento – de cabeça quente – em que meu
time mais uma vez foi prejudicado. Não bastasse um gol
anulado durante um clássico, de ver o 'craque' do time
ser tirado de campo depois de ser caçado durante o
período em que ficou no jogo, o time leva uma goleada.
Pode parecer paradoxal, pois 5 x 0 é demais, mas o jogo
estava equilibrado, um pênalti não foi marcado a nosso
favor, havíamos colocado uma bola nas traves do
adversário e aí vem um péssimo árbitro e expulsa um dos
melhores em campo até aquele momento. Aliás, o Palmeiras
não teve nenhum pênalti anotado a seu favor até o
momento. São 23 rodadas sem termos um pênalti sequer
anotado a nosso favor. Pode ser coincidência. Eu não
acredito nelas. Não peço ajuda de arbitragem, somente um
campeonato justo, onde todos, os com 'estrutura' e os
sem 'estrutura' possam disputar em pé de igualdade.
Basta de apito cor-de-rosa! |